A escalada da violência em Angra

Cada vez mais a violência em Angra dos Reis tem preocupado as autoridade e os moradores. Os altos índices de criminalidade vêm assustando a população do município. Segundo dados da Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (CRPI), somente de Janeiro até o dia 12 de Maio 31 homicídios foram registrados. No mesmo período do ano passado, 28 mortes haviam ocorrido.

- Antigamente, Angra era conhecida por ser uma cidade calma, tranquila, com belezas naturais de dar inveja a qualquer outro município. A gente passeava a qualquer hora do dia ou da noite, e em qualquer lugar, bairro. Mas, agora, a situação complicou, e parece estar pior a cada segundo. Hoje já não me sinto seguro para sair de casa à noite; não consigo sequer andar no centro da cidade em segurança, quanto mais em bairros distantes. O adjetivo de "pacata" sumiu da cidade de Angra dos Reis - disse o aposentado Antônio Mário da Costa, de 72 anos.

                                                                                                          Os constantes assassinatos têm preocupado a população angrense. Além do número alto, a brutalidade dos crimes vem causando indignação nos moradores. Na última semana, por exemplo, um homicídio à luz do dia assustou a todos. Um homem de 36 anos foi assassinado com um golpe de faca no início da tarde de terça-feira na travessa de acesso às ruas do Comércio e Júlio Maria, bem no centro de Angra. Fabiano Melo Carvalho da Silva, o "Camú", de 36 anos, morador da Vila do Abraão, na Ilha Grande, almoçava com sua mãe em um restaurante, quando Carlos Augusto Cabral dos Santos, 35 anos, chegou e iniciou uma discussão.
Segundo testemunhas, Carlos pegou uma faca de serra e golpeou Fabiano no abdômen. A vítima chegou a receber atendimento de uma equipe do 10º Grupamento dos Bombeiros, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no local. O autor tentou fugir, mas foi contido por populares, que acionaram os policiais militares do 33º Batalhão que o prenderam em flagrante.
De acordo com informações de angrenses, Carlos seria morador de Guadalupe - zona norte da capital do estado - e trabalhava em uma pousada em Angra dos Reis, e o motivo para o crime teria sido uma antiga rixa.
Como a travessa onde ocorreu o crime é uma das mais movimentadas de Angra e várias pessoas passavam pelo local no momento, o assassinato repercutiu em todo o município.
- Onde nós vamos parar? A cada dia aparece uma história mais horrível. Como um homem mata o outro dessa forma, de tarde, em plena luz do dia, e com milhares de pessoas por perto? E sabe lá qual o motivo para ele fazer isso dessa forma, na frente de todos, sem se preocupar com as consequências. Em que mundo nós estamos? Será que esses crimes escandalosos na nossa cidade nunca mais vão acabar? - indagou a dona de casa Ana Paula Macedo, de 34 anos.
                                                                                                          De acordo com informações do Mapa da Violência 2011, feito pelo Instituto Sangari em conjunto com o Ministério da Justiça, Angra dos Reis está entre os 100 municípios onde mais se matam jovens no Brasil.  
A aposentada Mariana Juscenila é um exemplo das famílias que sofrem com os altos índices de violência na cidade. Há cerca de seis meses ela perdeu um sobrinho que foi assassinado por traficantes. Juscenila mora no Morro da Fortaleza há mais de 47 anos e conta que está mudando sua rotina por conta dos constantes homicídios.
- Meu sobrinho era um bom rapaz e foi assassinato depois de uma simples briga, uma coisa banal, que não havia motivos para gerar um crime. Infelizmente, o mundo de hoje está tão violento que não podemos confiar em ninguém. Sempre tive um pouco de receio de morar em morro, mas com o tempo fui conhecendo as pessoas e me acalmei. Mas agora, com essa história de morrer um a cada semana, quase não saio de casa mais, e evito que meus filhos e netos subam o morro para me verem. Do jeito que a situação anda, ser atingida por uma bala perdida não é nada anormal - disse a aposentada.
                                                                                                          Em Agosto do ano passado uma chacina que gerou a morte de três irmãos jovens, no bairro Belém, repercutiu e assustou todo o município. Até hoje, o caso ainda não foi esquecido pelos moradores do bairro. Devido à preocupação com a criminalidade no local, os moradores também tiveram que mudar seus hábitos. 
- Todos na família trabalham até tarde, e desde que acontecerem essas mortes mudamos todo o nosso cronograma. Eu e meu marido chegamos em casa mais cedo, só para ir buscar nossos três filhos. Assim, todos chegam cedo e ninguém mais sai para nada. Do jeito que o bairro está é melhor não arriscar em nada - destacou a moradora Ana Cristina da Costa.
                                                                                                            O bancário Aluízio de Braga mora há mais de 30 anos em Angra, e disse que nunca havia visto a cidade tão violenta como nos últimos meses. Ele mesmo foi vítima desse caos, sendo assaltado por duas vezes em quatro meses.
- Moro há muito tempo em Angra e nunca tinha sofrido nada. Não sei o que aconteceu, que agora temos essa violência escandalosa. Até agora não consigo acreditar que fui assaltado duas vezes, é inacreditável. A cidade precisa de um programa de segurança pública antes que a situação piore e esses homicídios aumentem ainda mais - disse Aluízio.
                                                                                                          Por conta do aumento na criminalidade, o comandante do 33º Batalhão de Polícia Militar da Costa Verde, Amaury Simões, ressalta que o patrulhamento em todo o município continua sendo realizado intensamente.
- Todos os homicídios na cidade estão sendo investigado pelo serviço reservado do batalhão. Além disso, estamos dando continuidade às operações, que têm como objetivo prender os acusados desses crimes e as pessoas envolvidas com o tráfico de drogas - afirmou o comandante.


fonte: diariodovale.uol.com.br