Torneiras secas já são rotina

 bica do Morro da Glória II

Verão, sol forte, calor a cada dia mais intenso, e Angra dos Reis sofrendo com problemas no abastecimento de água. Em dias que a cidade está cheia, como finais de semana da alta temporada, e no carnaval, por exemplo, essa situação só se agrava. 

- Já está escrito, é só a cidade encher que vira um caos. Falta água, luz, o município vira uma bagunça. Eu moro no Morro do Tatu há 48 anos, e todo ano é a mesma coisa. Até que este ano, a falta de água no carnaval não foi tão desesperadora, porque eles liberaram um pouco mais. Mas não adianta, e nós ficamos largados ao descaso. Não aguentamos mais ter roupa para lavar, louça suja, e as torneiras secas - destacou a moradora Janet Ramos.

As constantes faltas de água em Angra têm gerado um caos entre os moradores. Há finais de semana que mais de 15 bairros são afetados com os transtornos no abastecimento, principalmente as partes mais altas e os morros do centro de Angra.

- É inacreditável ver uma cidade que tem tantas cachoeiras sofrendo com falta d'água. O problema não está atingindo um ou outro, mas a cidade inteira. Com esse calor insuportável e sem chuva, a falta de água é ainda pior. As autoridades precisam tomar providências imediatamente - reclamou a moradora do Morro da Glória I, Maria Rodrigues.

Hoteleiros e comerciantes temem prejuízos

Os proprietários de hotéis e pousadas em Angra dos Reis também estão preocupados com as constantes faltas de água no município. No intuito de evitar prejuízo nesse período de alta temporada, muitos hoteleiros precisam comprar água para fornecer aos hóspedes.
- Desde que a situação começou a piorar em alguns bairros, me preparei para caso precisasse de água imediatamente. E é isso que tem acontecido, principalmente nos finais de semana. Na semana passada, por exemplo, comprei quatro caminhões-pipa para garantir o conforto dos hóspedes - disse o proprietário de uma pousada na Japuíba, Antônio Mathias.

Rosali da Costa é gerente de um restaurante no centro da cidade há mais de 10 anos. Preocupada com os problemas na rede de abastecimento da cidade, ela conta que muitos clientes já reclamaram.
- A nossa última opção é deixar o estabelecimento sem água, mas às vezes não dá tempo de comprar ou demorar a chegar. E é muito ruim o cliente chegar ao restaurante e nem poder usar o banheiro. É lógico que ele vai reclamar e se bobear vai embora para outro lugar. Sem contar que sem água não tem como cozinhar. Por enquanto estamos conseguindo manter, mas espero que isso não piore - desabafou a comerciante.

Devido às constantes faltas de água, o banheiro municipal do Cais Santa Luzia, no Centro, ficou fechado por várias vezes, e gerou incômodo aos turistas e comerciantes próximos ao local.
- O Cais Santa Luzia é o principal da cidade, e muitas pessoas embarcam por ele. E nós que trabalhamos por perto, precisamos do banheiro. Além disso, é uma vergonha um turista querer ir um banheiro e não poder por falta de água. Se Angra quer destaque no turismo, precisa dar motivos para isso - disse o vendedor ambulante, André Borges.

Ações

A Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) e o SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) responsáveis pelo abastecimento em todo o município informaram que os problemas ocorrem devido ao baixo índice pluviométrico, e ao aumento do consumo de água por conta das temperaturas elevadas do verão.

O SAAE informou também que realmente está enfrentando problemas no abastecimento, mas ressaltou que isso será normalizado, principalmente por meio de um projeto que a autarquia vem elaborando. A empresa quer integrar, através de um projeto já em desenvolvimento, os cerca de 50 microssistemas hoje existentes a duas unidades de produção, as bacias do Rio Mambucaba e do Rio Bracuí, únicas com capacidade de exportação de água para as demais regiões.

A elaboração do projeto custa ao município cerca de R$ 3 milhões. A execução deverá exigir um valor de R$ 300 milhões a ser investido, tomando por base o custo da elaboração e os elementos técnicos necessários à busca de recursos pelo município. Assim que houver recursos, o projeto será iniciado. 
Vale lembrar que o município vem fazendo investimentos no tratamento de esgoto, com convênios que ultrapassam a quantia de R$ 90 milhões, somados aos investimentos futuros para o abastecimento de água.


fonte: www.diariodovale.uol.com.br